domingo, 25 de abril de 2010

Belo Monte, depredador da Amazônia

Uma das questões socioambientais mais sérias no Brasil atualmente vem sendo a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. PAra sabermos mais, segue um texto de Leonardo Boff e um vídeo que nos traz mais informações do que os telejornais.

O governo Lula possui méritos inegáveis na questão social. Mas, na questão ambiental, é de uma inconsciência e de um atraso palmar. Ao analisar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temos a impressão de sermos devolvidos ao século XIX.

É a mesma mentalidade que vê a natureza como mera reserva de recursos, base para alavancar projetos faraônicos, levados avante a ferro e fogo, dentro de um modelo de crescimento ultrapassado que favorece as grandes empresas à custa da depredação da natureza e da criação de muita pobreza.

Este modelo está sendo questionado no mundo inteiro por desestabilizar o planeta Terra como um todo e mesmo assim é assumido pelo PAC sem qualquer escrúpulo. A discussão com as populações afetadas e com a sociedade foi pífia. impera a lógica autoritária: primeiro decide-se, depois convoca-se a audiência pública. Pois é exatamente isto que está ocorrendo com o projeto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu, no Pará.

Tudo está sendo levado aos trambolhões, atropelando processos, ocultando o importante parecer 114/09 de dezembro de 2009, emitido pelo IBAMA (órgão que cuida das questões ambientais) contrário à construção da usina, a opinião da maioria dos Ambientalistas nacionais e internacionais que dizem ser este projeto um grave equívoco com consequências ambientais imprevisíveis.

O Ministério Público Federal, que encaminhou processos de embargo, eventualmente levando a questão a foros internacionais, sofreu coação da Advocacia Geral da União (AGU), com o apoio público do presidente, de processar os procuradores e promotores destas ações por abuso de poder.

Esse projeto vem da ditadura militar dos anos 70. Sob pressão dos indígenas apoiados pelo cantor Sting, em parceria com o cacique Raoni, foi engavetado em 1989. Agora, com a licença prévia concedida no dia 1º de fevereiro, o projeto da ditadura pôde voltar triunfalmente, apresentado pelo governo como a maior obra do PAC.

Neste projeto tudo é megalômano: inundação de 51.600 hectares de Floresta, com um espelho d’água de 516 quilômetros quadrados, desvio do rio com a construção de dois canais de 500m de largura e 30 km de comprimento, deixando 100 km de leito seco, submergindo a parte mais bela do Xingu, a Volta Grande e um terço de Altamira, com um custo entre R$ 17 e R$ 30 bilhões, desalojando cerca de 20 mil pessoas e atraindo para as obras cerca de 80 mil trabalhadores, para produzir 11.233 MW de energia no tempo das cheias (4 meses) e somente 4 mil MW no resto do ano, para, por fim, transportá-la até 5 mil km de distância.

Esse gigantismo, típico de mentes tecnocráticas, beira a insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, valorizando matrizes energéticas alternativas, baseadas na água, no vento, no sol e na Biomassa. E tudo isso nós temos em abundância. Considerando as opiniões dos especialistas, podemos dizer: a usina hidrelétrica de Belo Monte é tecnicamente desaconselhável, exageradamente cara, ecologicamente desastrosa, socialmente perversa, perturbadora da Floresta amazônica e uma grave agressão ao sistema-Terra.

Este projeto se caracteriza pelo desrespeito: às dezenas de etnias indígenas que lá vivem há milhares de anos e que sequer foram ouvidas; à Floresta Amazônica cuja vocação não é produzir energia elétrica, mas bens e serviços naturais de grande valor econômico; aos técnicos do IBAMA e a outras autoridades científicas contrárias a esse empreendimento; à consciência ecológica, que devido às ameaças que pesam sobre o sistema da vida, pedem extremo cuidado com as Florestas; desrespeito ao bem comum da Terra e da Humanidade, a nova centralidade das políticas mundiais.

Se houvesse um Tribunal Mundial de Crimes contra a Terra, como está sendo projetado por um grupo altamente qualificado que estuda a reinvenção da ONU, seguramente os promotores da hidrelétrica de Belo Monte estariam na mira deste tribunal.

Ainda há tempo de frear a construção desta monstruosidade, porque há alternativas melhores. Não queremos que se realizem as palavras do bispo dom Erwin Kräutler, defensor dos indígenas e contra Belo Monte: “Lula entrará na história como o grande depredador da Amazônia e o coveiro dos povos indígenas e ribeirinhos do Xingu”.

Leonardo Boff é teólogo. Fonte http://www.ecodebate.com.br/2010/03/02/depredador-da-amazonia-artigo-de-leonardo-boff/

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Formação de Gerenciadores para o Projeto de Educação Ambiental

Durante os meses de Março e início de Abril realizamos na Sala Verde Pindorama o curso de Formação de Gerenciadores do Projeto de Educação Ambiental cujo tema proposto foi: "Eu uso e não abuso" tendo como objetivos principais:
- Trabalhar transversalmente com os alunos, utilizando estratégias onde os conceitos, procedimentos, atitudes, valores éticos e habilidades se desenvolvam simultaneamente, e com isso o aluno se interesse em adquirir novos conhecimentos sensibilizando-os para os problemas ambientais existentes na sua própria comunidade;
- Fazer com que os alunos sintam-se transformadores do ambiente e que se integrem as questões ambientais levantando os problemas e agindo de forma a solucioná-los;
- Promover aos envolvidos no projeto a percepção do equilíbrio como fator essencial para a sustentabilidade e a qualidade de vida.
Neste momento, as escolas encontram-se em fase de construção de seu próprio projeto com acompanhamento da Sala Verde Pindorama.

Para além da trajédia em Niterói

Esse texto é uma contribuição de meu amigo oceanógrafo João Pedro Vieira, o Jota do Coletivo Socioambiental.

"Quarta-feira, 07 de abril de 2010, o Brasil pára diante das notícias acerca da tragédia ocorrida no Morro do Bumba, em Niterói, onde um deslizamento atingiu mais de setenta residências e deixou, até agora, mais de cinquenta mortos e dezenas desaparecidos, feridos e desabrigados. A tragédia chamou atenção pela dimensão, mas não seria diferente de tantos outros deslizamentos que ocorrem em várias cidades brasileiras em épocas de chuva, se não fosse outro detalhe relacionado ao histórico do local, um antigo depósito irregular de lixo, ou seja, um lixão.
Não vou aqui escrever sobre a falta de planejamento urbano nas cidades brasileiras e a inoperância das autoridades, em todos os níveis, em relação às ocupações irregulares, especialmente em morros e encostas. A reflexão que gostaria de provocar vai um pouco além e se foca nesse detalhe relacionado ao caso de Niterói, a questão do antigo lixão, um fator que favoreceu muito o desfecho da tragédia.
Literalmente, aquelas casas, que hoje se encontram como escombros soterrados sob toneladas de lama e lixo em decomposição, foram construídas sobre uma montanha de resíduos. Mas, como deve ser óbvio para todos, aquele lixo não apareceu lá por acaso, ele não é obra da geologia natural daquela área. Todo aquele lixo foi, décadas atrás, depositado inadequadamente no local, o que infelizmente ainda acontece na maioria dos municípios brasileiros.
Então, de onde veio todo esse lixo? Veio de uma cultura social baseada no consumismo desenfreado, que cultua o supérfluo e o descartável, uma cultura social imposta por um sistema econômico baseado exclusivamente nas leis do mercado, onde o lucro é o mais importante, e abastecida por um apelo midiático cada vez mais forte, que aliena a capacidade crítica da sociedade, impelindo as pessoas a orientarem suas vidas na obtenção de bens materiais. O resultado disso é o consumo cada vez maior de produtos, com a falsa promessa que melhorar a qualidade de vida das pessoas, o que implica em uma produção cada vez maior de resíduos.
É preciso, portanto, analisar a solução para a problemática da produção de resíduos não só na correta destinação do mesmo em aterros sanitários adequados, mas sim em um profundo processo de reestruturação da sociedade, o qual passa por diversos setores, mas especialmente pela educação, formal e informal, no sentido de transformar os valores hoje cultuados pela sociedade consumista.
Mas essa transformação não está só nas mãos de autoridades e governantes. Ela é também responsabilidade individual de cada um e passa por uma reflexão sobre nosso papel como cidadão e parte da teia da vida do Planeta Terra. Não seria já passada a hora de cada pessoa começar a refletir acerca de seus hábitos de consumo, descarte e produção de lixo? Não seria a hora de analisar todas as consequências negativas trazidas pelo descarte inadequado do lixo? Mais, não seria a hora de transformar efetivamente nossos hábitos de consumo, de forma que a produção de lixo possa diminuir significativamente? Serão necessários quantos alagamentos, deslizamentos e tragédias como a de Niterói para que uma mudança efetiva aconteça na sociedade? Eu espero que mais nenhum. E espero que o que aconteceu sirva ao menos de alerta para que a sociedade abra os olhos para o problema."